sábado, 1 de março de 2008

Os Publicitários e os "publicitados" - Visão do consumismo fútil



“O ideal que nos embala e formatado pelos ‘intelectuais’ do presente: os publicitários. Eles legitimam a superioridade do modo de vida burguês, nos fazendo crer que o que resta a sociedade e buscar no consumismo desenfreado o seu espaço de cidadania” (Max Horkheimer)

O verbo mais original do planeta é vender. Tudo se vende, tudo se compra.. Quem não pode comprar não pode viver. Uma sociedade extremamente consumista faz feliz aquela criança que pode ter um vídeo game de R$ 2.000,00 e transforma em derrotado o pai de família que nem sequer pode comprar um pião pra seu filho. Aqui em nosso país, onde até mesmo as necessidades básicas são ignoradas por falta de recursos, soa como um luxo poder proporcionar algum conforto, cultura ou produto de qualidade para a família. As prateleiras dos mercados, vitrines de shoppings centers, propagandas de televisão, uma página inteira do jornal, contracapa daquela revista, banners, outdoor, a etiqueta da roupa de algum que passa... Todos convidam, chamam, gritam pelo consumo. Terceiro milênio. Diferente de quando o sujeito podia ter o emprego do salário mínimo. Do trabalho ia para casa, ligava seu radio de pilha ou aquela televisãozinha, a vida social era restrita, os meios de comunicação eram poucos, as grifes eram uma realidade distante e não se precisava de todo esse aparato tecnológico pra viver. Em nosso tempo quem tem o gostinho de conhecer e experimentar o “modo urbano de viver” precisa de um mp3 player de qualidade(disc man é passado), precisa de um bom computador, pra se passar as musicas para o mp3, acesso a internet, claro, já que tem um computador. Também terá que comprar uma impressora, scanner e outros
acessórios que o computador requer. Ainda e preciso uma câmera digital. Ninguém mais usa máquinas fotográficas com filme. Comunicação com qualidade e beleza: telefone celular, de preferência que tenha bluetooth, câmera digital(mesmo que já tenha uma, separada do celular), mp3 e outras inovações. Depois de um pouco de tempo tem que trocar tudo, porque as tecnologias se renovam, o de um ano atrás se torna obsoleto e não se pode ficar pra trás. Tudo pode começar comprando um computador. É muito bom poder ter as coisas, acesso a tecnologia, as inovações. Tudo muito interessante. O que desqualifica tudo isso é a ditadura capitalista: ter para ser. Comparativamente, quem trabalha, e muito, mas não recebe um salário “mínimo” pra se viver com qualidade ou oferecer certo conforto aos seus, fica a margem dessa sociedade em que o capital faz a pessoa.

Certa vez, estava em um banco, tirando um extrato, quando me abordou um senhor idoso pedindo que eu lesse o extrato dele. Pensou ele que eu era funcionário do banco. Espantei-me ao ver quase R$ 70.000,00 em sua conta corrente. O senhor estava mal trajado, na minha concepção. Um homem de estilo rural, roupas bem velhas, poídas pela ação do tempo. Imaginei, depois, que tinha uma casa velhinha, móveis antigos, aparelhos básicos, talvez, luxo nenhum. Acesso a culturas, certamente não tinha, igualmente não devia comer em restaurantes, nem usar telefone celular. Refleti sobre isso e me lembrei de outro senhor de Campos dos Goitacazes. Esse, cuja família conheço, tinha uma aposentadoria mínima e nenhum luxo. Em sua casa apenas um radinho de pilhas pra ouvir estações AM. Quando fui em sua casa com um familiar dele, ouvi-o comentar que tinha juntado um bom dinheiro e que queria comprar um lote pra deixar para o neto que estava pra casar.

Esses dois casos me fizeram pensar. Eles não são consumistas como eu. Mas são felizes. Não e necessário ter pra ser feliz. O senhor com a conta bancária recheada estava feliz com sua roupa gasta pelo tempo, o de Campos ate juntava dinheiro. Ambos não aprenderam no consumismo um modo de realização pessoal.

A influência das culturas de massa na sociedade contemporânea marca nosso tempo. O planeta está voltado para as cidades. Estar atual é seguir as tendências da cidade grande. Cinema, rádio, a música, jornais e revistas se voltam para o modo urbano de viver, desprezando, muitas vezes, as culturas e a sabedoria do campo. Pessoas da cidade acostumaram a pensar que fora do ambiente urbano não há cultura. E que as pessoas e as coisas do campo são desprovidas de inteligência e cultura. Meios de comunicação de massa são aliados da indústria, fazendo girar o mundo de capitais, sugando dos bolsos o que há, ainda que não seja o produto necessário, suficiente e importante para o consumidor.

Segundo a concepção de Hockheimer o mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da industria cultural. A arte imitando a vida, numa forma de prender leitores, espectadores de cinema e ouvintes de musicas. A influencia é clara, embora muitas vezes imperceptível. Uma realidade muito distante torna mais difícil a assimilação e o gosto pela obra. Adequar as obras da industria cultural é aceitável, inteligente e uma boa sacada de marketing, em minha opinião. Porém, aliena, quando a obra não permite ao interessado ter uma visão critica dos fatos. Uma obra de cinema tem que vender, faturar milhões, e para isso tem que ser espetacular, com efeitos especiais, idéisa mirabolantes, polêmicas, atores renomados e muita publicidade. No texto “A Indústria Cultural” há uma frase que me chamou à atenção:”A indústria cultural permanece a industria da diversão”.Tem que ser principalmente interessante, antes de ser bom, de qualidade. E segundo a teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer o espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Esse conceito, no meu entender, explica que os geradores do espetáculo tanto precisam dos que serem a eles quanto vice-versa.

Para o filósofo, cineasta e ativista francês Guy Debord o capitalismo torna o homem passivo aos valores preestabelecidos. Religião, artes, culturas adestram o homem em diversos aspecto de seu viver, inclusive no seu consumo, seja para o bem ou para o mal. Uma frase espetacular de Debord: “A sociedade do espetáculo é o próprio espetáculo, a forma mais perversa de ser da sociedade de consumo. Perversa principalmente num país em que uma entrada no teatro normalmente custa mais caro do que muitos ganham durante uma semana de trabalho, além da influência para seus espectadores se adequarem numa conjuntura cultural e consumista que está além de suas possibilidades ou vontades.

Aqueles que estão a frente dos movimentos culturais, artísticos, do cinema, da TV, do teatro, da música, das marcas comerciais, enfim os que determinam o que ver, ouvir, usar, comprar, são os que decidem o que vamos viver. Nesse sistema, muito embora não concordemos muito com ele, somos obrigados aceitá-lo, acompanhá-lo e muitas vezes servi-lo. A influência é notável e muitas vezes bastante negativa. Numa simples reflexão posso indagar: “quem sou eu?” Eu decido o que sou? Eu, de fato, escolho o que ver, ouvir, vestir, usar, pensar ou participar?

A industrialização e o uso dos meios de comunicação, mesmo os de massas, sempre tiveram ao longo dos tempos, uma conexão de serviço para com aqueles que se utilizam deles para a obtenção do lucro. Os interesses dos anunciantes publicitários, poderosos da política, empresários e dominadores da mídia sempre foram mais importante no processo de distribuição da cultura. Hoje a indústria fonográfica discute a questão da transferência de músicas pela internet com uma grande preocupação. Não há interesse em criar a cultura se isso não for a um alto valor econômico, altas cifras de lucro. Cultura custa caro e quem ganha milhões não quer menos que isso. No fim, artistas, admiradores e consumidores estão todos nas mãos dos que tem o poder de colocar nas bancas, palcos e meios de comunicação os produtos da cultura.

Diante de tudo isso, quando uma sociedade é vazia de opinião própria, ou ate mesmo com ela, pouco pode fazer, além de continuar buscando no consumismo desenfreado seu espaço de cidadania.

Um comentário:

  1. É normal que no mundo que vivemos os valores estejam totalmente alterados... não dá pra sentir-se culpado por poder comprar um celular maneiro só por que poderia viver sem... faz parte da evolução, educação social, onde se aprende que quem pode pode e quem não pode é menos... é inferior ou o pobrezinho... é estranho mas é assim que acontece... Tipo: a burguesia fede... já é antiga essa diferença; nobres e pebleus...Acha que não iria evoluir também?? É só ter um certo equilíbrio pra não se tornar um vício... como qualquer droga ou algo prejudicial...rsrsrs mas isso, o Ministério não adverte!!! kkkkkkkkk beijaozão!

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