quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Espetáculo da Violência e a Mídia



“Leôncio, filho de Aglaion, voltava do Pireu, próximo da face externa do muro norte, quando viu alguns cadáveres que jaziam perto do carrasco, e sentiu o desejo de observá-los melhor. Ao mesmo tempo sentiu repulsa diante da idéia, e tentou virar o rosto. Por algum tempo lutou consigo mesmo e tapou o rosto com as mãos, mas no fim o desejo venceu, e abrindo bem os olhos com os dedos, ele correu para os corpos dizendo: Pronto, malditos, deleitem-se com o adorável espetáculo” (Platão – A República)

A matéria que você está lendo não é rigorosamente em função do recém ocorrido caso Eloá. Mas sua publicação nesse tempo não terá sido mera coincidência. Pra ficar com os nomes mais recentes sem muito esforço podemos lembrar do João Hélio, da menina Nardoni, além desse caso atual. O mais importante aqui, porém, não é os nomes, mas o comum entre esses nomes e a exposição desses nomes que vamos abordar mais adiante.


Curioso notar que esses casos que caem seguidamente nos grandes meios de comunicação são de pessoas brancas, residentes de grandes cidades e com alguma notabilidade social. A dor do ser humano pode ser a mesma diferindo classe, cor e onde reside, mas o que interessa para os canais de comunicação é abordar gente dos tipos citados acima. Será porque isso? Não teria a ver com os patrocínios, anunciantes desses meios? Interessaria, de fato, retratar o caso de uma criança ou idoso maltratado até a morte numa cidade do interior do Maranhão, por exemplo? Essas pessoas não consomem Nike e os consumidores da Nike estão mais interessados com o que acontece em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, isso não é um fato? O Brasil tem um relevante número de assassinatos por dia, nessa filtragem importa manchetear o que melhor atende aos interesses da elite. O Estado de Pernambuco a média de 13 homicídios diários, pelo menos 1 ou 2 são casos espetaculares, mas há interesse em mostrar esses casos de pessoas humildes do Nordeste?


Um outro ponto notável é o poder de exibição que esses casos tem hoje. Com pouco tempo de pausa somos massivamente informados de alguma coisa espetacularmente negativa que está acontecendo. Há tempos atrás isso ficava a cargo de jornais sensacionalistas como “O Povo” ou dos programas tipo “Ratinho”, “Aqui Agora”, “Cidade Alerta”, entre outros. Hoje, no entanto, os programas jornalísticos tradicionais massificam essas notícias escabrosas com sua roupagem “terno e gravata” e “câmera calma”, com seus jornalistas visivelmente consternados com as noticias lamentáveis.


É a Sociedade do Espetáculo. Tem público, essa é uma questão. Podemos ver pessoas discutindo, apontando culpados, lamentando, rindo, numa mesa de bar com sinuca e cervejas como se fosse uma copa do mundo de futebol... Caipirinha, tira gosto e a criança arrastada por bandidos, assim, bem cru e tranqüilo como se estivessem fanado do almoço de domingo com a sogra... Clovis Rossi bem declara em uma matéria sua: “Se a sociedade quer espetáculo, os jornalistas lhe damos o espetáculo”
(
http://teleporto.abusar.org/pipermail/u-br.soc.politica/2007-June/015471.html)
Há mercado, o ser humano é naturalmente carniceiro e quem ganha dinheiro (muito dinheiro) com isso coloca mais lenha pra queimar. Esses grandes intelectuais coordenadores de tudo isso tem muita sensibilidade. Ouvem jazz e bossa nova, não tem Orkut porque é brega, lêem biografias e vão ao MAC sempre que há algo novo.


Tudo isso me remete ao ocorrido em Ruanda em 1994, pequenino país da região central da África, que teve em 100 dias sua população dizimada - uma população de 7,5 milhões quase um Milão foi exterminada geralmente a facões, numa covardia com a ciência da ONU, países europeus e EUA, etc. Cobertura jornalística tímida e desinteressada, e muito pouco envolvimento dos “grandes homens do ocidente”. Ruanda não tinha nada de interessante, além de sua cultura tribal misturada com catolicismo e protestantismo, pouco interessante para nós brancos de cá.


A notícia precisa render, principalmente dinheiro e mais dinheiro. É... Vamos comprar, vamos vender, não importando se é uma criança ou um idoso envolto em sangue. O produto tem que ser interessante...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Você é uma Pessoa de Verdade?




Tudo bem simples
Tudo natural
Um amor moreno
Fruto tropical
Todas as cores
Que eu puder te dar
Toda a fantasia
Que eu puder sonhar

Eu pensei te dizer
Tantas coisas
Mas pra que
Se eu tenho a música (música)
Bom é bem simples
Sem nos complicar
E bastante tempo
Pra te amar...
(Bem Simples/Roupa Nova - trecho)


Você existe, mas você é uma pessoa de verdade? Não estou perguntando se você é matéria física mas falo de algo abstrato. Você é um ser humano, espécie dominadora do globo, é um cidadão, tem direitos e deveres civis e políticos, você é um indivíduo, tem suas características peculiares, é um habitante, com raízes fixadas onde se estabeleceu. Mas é você uma pessoa de verdade?

Pessoas de verdade são desprovidas de preconceito de qualquer tipo, vêem a vida da maneira mais poética, o sorriso tem mais valor que um bem material. Não que essas pessoas não tenham problemas, mas entendem que a melhor solução pra tudo é continuar vivendo amigo da vida.

Vamos, para melhor definir o termo, citar alguns poucos exemplos dentre tantos possíveis de atitudes e tipos de pessoas de verdade. Se você tem uma boa parte dessas características, certamente você é uma pessoa de verdade.

- Dizer bom dia, obrigado, por favor, com licença, sorrir pra quem passa, essas coisas tão básicas parecem que não são importantes, mas são os principais sinais de alguém é de verdade.
- Homens que, pelo menos de vez em quando, abrem a porta do carro para sua companhia. Um ato romântico esquecido. Pessoas de verdade resgatam bons costumes que se perdem no tempo.
- Mulheres que agradecem esses atos carinhosos com um beijo também são pessoas de verdade.
- Oferecer flores, lembrar-se de datas importante e, principalmente, demonstrar carinho e amizade em datas esporádicas constituem-se atitudes de pessoas de verdade.
-Atos de simplicidade: Repetir uma roupa, não se preocupar se um produto, roupa, lugar, está na moda ou não. Ter o mais caro não é o mais importante. Lanchar numa birosquinha não é o fim do mundo. Quem é de verdade anda de ônibus se preciso for, mesmo que tenha carro, e cede seu lugar pra um idoso, grávida ou deficiente.
- Pouca gente gosta de esperar. Vivemos num mundo que tem pressa pra tudo. Esperar alguém se arrumar, por exemplo, é irritante. Muitas vezes um relacionamento é desgastado por causa desses atrasos. Ou por culpa de quem atrasa ou por culpa de quem tanto se irrita com esses atrasos. Eu quero dizer que alguém de verdade pelo menos se esforça pra não atrasar tanto e também se esforça pra não irritar-se com que se arruma para ficar bonita para ele mesmo.
- Reconhecer quando está errado, voltar atrás numa decisão ou conceito são também atitudes dessas boas pessoas. Bem como tolerar os diferentes gostos e opções dos outros. Ninguém tem que ser igual a mim ou a você. Ninguém tem que pensar da nossa maneira. Há diversas maneiras de se descrever uma árvore, por exemplo.
- Ser honesto no troco, saber ganhar e saber perder, ser gentil com os idosos e as crianças.

Estava pensando outro dia quão bom seria se todos fossem como os políticos em tempos de campanha. Eles dão a vez, não se irritam no transito, cumprimentam, acenam, beijam as crianças humildes...

Provavelmente você não tem todas essas características. Eu não tenho. Mas quero ser melhor a cada dia. Pessoas de verdade não querem ser sempre a mesma coisa, elas querem ser a cada dia melhor, a cada dia mais “de verdade”. Pra fechar, pessoas de verdade são simples, mesmo que sejam milionárias. Não são nem se acham perfeitas. Vêem na simplicidade de viver, ser feliz e amar as coisas mais importantes da vida. Por que viver e ser feliz é bem simples... Quando se ama. Pessoas de verdade amam. Eu sou uma pessoa de verdade. E você?