Não é intenção nossa mexer com assuntos polêmicos só pra “tirar onda” ou complicar mais o leitor. Nós, os seres pensantes, supremos nesse sistema tão amplo e complexo, inventamos e re-inventamos de tudo, mas nos é altamente difícil explicar de onde, como e quando viemos. E tais inquietações são recheadas de dogmáticas defesas que não raro ultrapassam a linha do respeito e tolerância necessários em qualquer convivência. Como não sou testemunha ocular do momento original do surgimento da vida, nada posso afirmar com certeza inconteste.
Nessas duas matérias sobre a questão do criacionismo x evolucionismo, eu apresento o meu amigo e xará Alexandre, graduando em Ciências Biológicas e coerente na exposição do tema. Os grifos são meus, com a apreciação e permissão do Alexandre. Leia e comente. Abração!
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Para começar a falar sobre esse tema, é bom que o leitor tenha a definição precisa de alguns termos:
- Evolucionista: pessoa que aceita a teoria da evolução sem ressalvas como modelo para entender como se deu a diversidade das espécies e consequentemente a origem da vida.
- Criacionista: pessoas que quase em sua maioria são evangélicas e aceitam o Gênese bíblico como literal. Existe Também uma organização político/religiosa dessa linha de pensamento que busca entrar no meio científico com idéias a priori científicas, porém, com cunho religioso não explícito.
- Evolucionista Teísta: Pessoas que acreditam que Deus usou a evolução para criar a vida. Aceitam a evolução, mas entendem que todo esse sincronismo do mundo real tem as mãos de um ser, ou força que contribuiu para que tudo ocorresse harmoniosamente.
Primeiramente eu vou discorrer o assunto do ponto de vista evolucionista. Na segunda parte eu falarei do ponto de vista criacionista.
Vemos as coisas evoluírem em todas as partes a nossa volta. Podemos mencionar que a última grande revolução científica foi a internet, que nos fez praticamente entrar em contato com o mundo, sentado na poltrona da nossa casa. Quem poderia imaginar isso há 100 anos atrás?
Bem, se o mundo da engenharia evolui, por que não a natureza? Observando as semelhanças entre cavalos e zebras por exemplo, você poderia facilmente concluir que elas são primas, ou no mínimo parentes. Observamos cachorros e lobos, gatos e tigres, e muitas outras espécies. E o mais curioso, é que, especialmente no reino animal, nós vemos um aumento gradativo de complexidade à medida que observamos as espécies.
Hoje em dia, muito além do que quando Darwin escreveu seu famoso livro, os dados estão cada vez mais precisos ao nível molecular. Conseguimos fazer comparações entre espécies através do mapeamento do seu genoma, ou conjunto de genes contidos no DNA do indivíduo. Isso vem mostrando que de alguma forma, todos os seres vivos possuem semelhanças, e fortifica a idéia de que todos eles foram sofrendo alterações ao longo do tempo que permitiram a mudança de uma espécie para outra. Podemos citar o exemplo das aves que, segundo os zoólogos, são oriundos dos répteis que poderiam ter desenvolvido suas asas de duas maneiras diferentes: do chão para cima ou de cima para baixo. Não vou me ater a detalhes como explicar as mutações, a interferência do ambiente, a deriva gênica e etc. Acho que citando esses exemplos, as pessoas conseguirão pegar bem as idéias propostas, até porque todas essas hipóteses são baseadas em estudos sérios. Vale ressaltar que não são apenas “achismos”.
Muitos estudos são feitos e toda a ciência é fundamentada nessa Teoria Científica de que os mais aptos sobrevivem, evoluem e dão continuidade à vida. Que os seres possuem um grau de parentesco isso é evidente. Basta ver uma onça e um guepardo. São espécies diferentes, porém são animais muito parecidos fisicamente. Essa idéia realmente foi uma mudança total da visão fixista no passado, e tem sua aplicação fundamentada. Mas então começaram a aparecer as extrapolações. Já que as espécies sofrem modificações, elas podem se transformar em outras de filos diferentes. Os peixes evoluíram para anfíbios, que evoluíram para répteis, que evoluíram para as aves etc... etc... até chegar ao ser humano, que de longe é o ser vivo mais complexo do universo.
É nesse ponto que toda a Teoria da Evolução carece de provas empíricas. Se elevarmos isso ao nível celular, a coisa fica mais complicada ainda para resolver. Bem, se a Teoria explica a evolução da vida, deveria explicar também a vida aos seus níveis mais fundamentais. Os cientistas mencionam os fósseis como prova irrefutável de que a vida evoluiu, mas estes só provam que os organismos já existiam e de formas já com certo grau de complexidade. E o começo? Talvez você ouça “Ah, evolução nada tem a ver com origem da vida”. Será que é assim mesmo? Então, se eu desenhar a árvore genealógica da vida de hoje até o seu começo, aonde eu vou chegar? EUREKA! Na origem da vida. E aí existem hipóteses como o mundo do RNA dentre outras, para explicar o surgimento da vida que é seguido por argumentos que sugerem a evolução da primeira partícula (coacervado) até o ser humano hoje. Então, essa afirmação de que a evolução nada tem a ver com a origem da vida é hipócrita. Claro que uma coisa está ligada à outra. Não precisa ser cientista para enxergar isso.
A conclusão de todo esse discurso é simples: explicar a evolução das espécies é muito mais complicado do que parece. Que a idéia pode ser aceita, claro que pode. Agora quem disser para você que a evolução está definitivamente provada cientificamente está no mínimo sendo desonesto. É a única proposta que não invoca uma causa externa para o surgimento da vida, e por essa razão é a mais aceita pela comunidade científica. Mas será a Teoria da Evolução uma verdade absoluta? Não! Ainda há buracos enormes a serem preenchidos e os cientistas deveriam ser mais sinceros nesse sentido. Alguns realmente são honestos e sabem que o problema está ainda engatinhando. Outros, que tanto criticam pessoas religiosas, acabam fazendo da evolução uma religião para si, e são tão ou mais fundamentalistas do que muitos líderes religiosos. Admitir que o problema tem grandes lacunas e necessita de profundas reflexões é a atitude mais honesta a ser tomada por qualquer pessoa de bom senso. Já atribuir o surgimento do mundo natural a uma causa externa será o tema da parte dois desta mesma discussão.
Alexandre P. Ferreira, graduando em Ciências Biológicas.